sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Por que não estão aprendendo?

Se pudesse resumir meu desafio como futura secretária de Educação do município do Rio de Janeiro, diria que será promover a qualidade da educação em nossa cidade. Há três anos na Fundação Victor Civita, acompanhando a política educacional em todo o país e propondo caminhos para professores,diretores e gestores públicos,pensei que é o momento de colocar em prática o que há anos defendemos. E o Rio parte de uma base interessante.Com um Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) de 4,5 para as séries iniciais e de 4,3 para as séries finais, a cidade fica bem à frente do resto do país. Mas isso não deveria nos consolar: os países desenvolvidos têm obtido um índice de 6 ou mais.Há duas maneiras de olhar o futuro: ambicionar o provável ou sonhar com um salto na quqlidade da educação, compatível com uma das principais cidades do Brasil em número de mestres e doutores e que pretende ser a capital do conhecimento. Não há receita fácil,Ensinar demanda planejamento e persistência. Começa por fixar objetivos claros de aprendizagem que possam ser acompanhados por todos,pais (sim,mesmo os menos letrados),professores e demais agentes. Esses objetivos deveriam estar bem estabelecidos num currículo elaborado com a ajuda de especialistas. E a aprovação automática? Ela será abolida. Não podemos admitir que jovens passem para a frente sem ter aprendido. É inaceitável termos crianças analfabetas no 5º ano (ou 4ª série do sistema antigo). Para tanto,a idéia é criar o programa Criança Alfabetizada para garantir que toda criança esteja completamente alfabetizada até os 8 anos de idade. Há que se esclarecer que aprovação automática e ciclos são coisas diferentes. As redes públicas e muitas privadas no mundo se utilizam de ciclos plurianuais para trabalhar com etapas mais flexíveis. Como nem todos aprendem no mesmo ritmo,dá-se um período maior para se alcançar as expectativas de aprendizagem. Ora,isso só funciona se houver uma avaliação firme de cada etapa. Assim, devemos implantar programas de recuperação intensiva de aprendizagem em todas as séries, voltar a ter provas e boletins enviados a cada bimestre aos pais, para permitir maior participação na vida escolar deles. O que fazer com as crianças que não aprendem? Esta é certamente a pergunta errada. O que deveria tirar o sono de toda a sociedade é outra pergunta:por que não estão aprendendo? Toda criança tem condições de aprender,e a escola deve assegurar que isso aconteça ou teremos de explicar por que roubamos o futuro de uma geração.
------------------------------------------------------------------------------------ Claudia Costin é vice-presidente da Fundação Victor Civita e prof do Ibmec,em SP.Foi ministra da Administração e secretária de Cultura do Estado de SP. Fonte: O Globo Opinião, p 7, 28/11/08

Nenhum comentário: